as galinhas foram ao bolhão

O sábado de acção contra a alienação do Bolhão começou por volta das 3 da manhã, quando cerca de dez saíram para colar duzentos Avisos à População. Na manhã seguinte, ao chegarmos ao Bolhão, pudemos testemunhar que a quase totalidade deles ainda estava onde tinha sido colada e que, como esperávamos que acontecesse, captava a atenção dos passantes.


Em frente à entrada da Rua Formosa, abriam-se duas mesas para a recolha de assinaturas duma petição que pretende impedir a demolição de todo o interior do mercado. A adesão superou as expectativas nais optimistas e não se exagerá se se disser que foram recolhidas centenas. Deu, ainda, para entender que para os portuenses, inclusivamente para algumas das pessoas que trabalham no Bolhão, a solução que representa a entrega desse espaço à empresa TCN não está clara. Muita gente sabe que vai ser "vendido a uns holandeses", mas muito pouca conhece os plano dessa malta dos países baixos.


À medida que se iam juntando, as vozes perdiam a timidez e soltavam-se em cantares feitos à medida. Da rua passou-se para dentro, circulamos, paramos, subimos e descemos escadas, atendemos a pedidos da zona do peixe, as vendedeiras ajudaram ao coro, de fora pediam que passássemos por determinada zona, assim o fizemos. Quando, finalmente, voltamos à Rua Formosa, já era perto da hora do fecho.

(Ver reportagem SIC)


Tempo ainda para um certeiro e bem humorado leilão da cidade do Porto, onde vários monumentos foram entregues à melhor oferta e à proposta mais criativa. Transformado o mercado do Bom Sucesso em praça de Touros e o pavilhão Rosa Mota e seus jardins em campo de golfe, a cidade que Rui Rio constrói promete.


Da jornada, retemos que é
preciso voltar. Há falta de informação, há centenas de outras assinaturas a recolher, há, sobretudo, a promessa feita de que voltaríamos a quem nos disse que o que era preciso era estar ali todos os dias.

leilão da cidade



cantares

Bolhão

Ó Bolhão, Bolhão!
Que vida é a tua?

Se é pra vender
ó trim tim tim
vem lutar pra rua!
Ó Bolhão, Bolhão!
Que vida é a tua?
É pra preservar
ó trim tim tim

Ninguém o destrua.
Ó Bolhão, Bolhão!
Que vida é a tua?
Não é do Rui Rio
ó trim tim tim
é minha e é tua.

Ó Bolhão, Bolhão!
A alma do Porto
Centro Comercial

ó trim tim tim
é um Mercado Morto!



Canto ao Bolhão

OH MERCADO DO BOLHÃO, ) bis
ÀGUA O DEU DO CHÃO P’RA FORA )-
E NENHUM RIO PARVALHÃO )
TE HÁ-DE ARRUINAR AGORA ) -bis

I
Dizem que é o progresso
Que é grande evolução
Isto é mas é retrocesso )
E cega destruição ) -bis

II
Aqui a invicta cidade
Nunca passou tantos perigos
Cuidado! O Rio ‘inda há-de )
Vender a torre dos Clérigos ) -bis

III
Bolhão –mercado do povo
Dos pregões e vendedeiras!
Não mais um shopping novo )
Sem couves, tripas(*1) e alheiras ) -bis

IV
Bolhão das bancas abertas
E dos pregões convincentes
Grandes ganâncias despertas )
Aos tai$ que afiam os dentes ) -bis

V
E se eles afiam os dentes
É por causa salafrária
Que lhes põe as mãos tão quentes? )
Espéculação imobiliária! ) -bis

VI
Em vez do Bolhão do povo
Na baixa e zona central
Quer a Câmara um centro novo )
De lixo multinacional ) -bis

VII
E em vez das vendedeiras
E das pequenas lojinhas
Serão só” butiques” cheias )
De mil inúteis merdinhas ) -bis

VIII
Mas cá a gente do burgo
Que se impôs pelo Coliseu
VAI É MANDAR PASTAR O BURRO )
DO RIO PR’A LÁ DE VISEU (*2) ) -bis

IX
E este marco do Porto
Não deixemos destruir
O Bolhão não será morto )
Se nos soubermos unir! ) -bis

Zérpa –Jan.2008



Era uma vez um mercado
na Baixa bem situado
por antigos construído

Era local de conversas
comércio e trocas diversas
de pregões e alarido

Era sítio frequentado
por pobre ou remediado
por rico ou por meliante

E era natureza sua
o ser da gente da rua
o ser sítio cativante

Mas um dia os cifrões
mais gordos que os corações
para o mercado olharam

E um bando de bandalhos
torceram a rama aos alhos
e seu reino cobiçaram

Como precisava de obras
os cifrões viraram cobras
e o mercado sua presa

Decidiram em segredo
semear veneno e medo
para não haver defesa

Uma vez delineado
novo rumo p'ró mercado
marcaram demolição

Porém o povo tripeiro
tem afecto verdadeiro
pelo seu velho Bolhão...

Ponha aqui o seu pezinho
ó vizinha, ó vizinho
que nos roubam o mercado
Meta os butes ao caminho
venha mostrar o focinho
e mostrar seu desagrado

Já temos shoppings a mais
e outras lojas que tais
preferimos o Bolhão

Agora arrebenta a bolha
e há que fazer a folha
a quem quer demolição

Ó talhantes, ó peixeiras,
floristas e vendeiras
de hortaliça e de fruta

Aqui viemos dizer
que o nosso querer é poder
abaixo os filhos da puta

Nada somos separados
mas juntos somos danados
e já cresce o furacão

Não baixaremos os braços
fortes são os velhos laços
que nos ligam ao Bolhão

Esta casa que habitais
por peritos especiais
até foi classificada

Património construído
pela lei é protegido
em terra civilizada

Mas as pedras sem as gentes
são como chão sem sementes
nada criam nada falam

Se há malta que não se sente
filha é de fraca gente
gritai pois o que eles calam

Convosco faremos frente
à proposta indecente
de demolir o Bolhão

No fim faremos banquetes
mas segurai os foguetes
agora é preciso acção

Com teimosia e revolta
se dará talvez a volta
a esta pouca vergonha

Mas cautela, ó ocupante,
urge ser perseverante
porque os gajos vendem ronha

Aqui estamos e estaremos
muitos embora pequenos
e não arredamos não

Contra a corja de bandidos
de vendilhões presumidos
que cobiçam o Bolhão

Quando na cova estivermos
passados alguns Invernos
os vindouros pensarão

Obrigado companheiros
porque fostes altaneiros
na defesa do Bolhão

Acaba a canção de rua
mas a luta continua
até gritarmos vitória

O Bolhão não vai morrer
se a malta não ceder
porque é nossa esta história.

(Para cantar com a modinha açoriana «Ponha aqui o seu pezinho»)

Regina Guimarães

recolha de assinaturas

Os cidadãos do Porto não podem deixar de manifestar, publicamente a sua total discordância e solicitar às Entidades e Organismos competentes que impeçam esse “acto de puro mercantilismo”, que pode ser «a demolição do Mercado do Bolhão», já autorizada pela Câmara Municipal do Porto, num desrespeito absoluto pelo Património Arquitectónico e Cultural, praticando a vergonhosa acção de estar a desactivar um dos mais emblemáticos símbolos o Comércio Tradicional da cidade, construído durante a Primeira Guerra Mundial, para dar lugar a mais um centro comercial.

O Mercado do Bolhão deve ser reabilitado e não demolido, de acordo com os seguintes princípios:

- Implemente as necessárias infra-estruturas técnicas, mecânicas e funcionais;
- Utilize os conceitos Arquitectónicos internacionalmente reconhecidos para a reabilitação do Património;
- Integre os Mercadores e Comerciantes existentes no Mercado e sejam tratados, de facto e de direito, como parceiros;
- Possibilite a divulgação dos conceitos de Reabilitação, aos Cidadãos, tornando o Projecto e a obra participada, exercitando as regras democráticas e o reforço do Estado de Direito.

O Mercado do Bolhão é património da Cidade e só o Povo do Porto pode decidir o seu futuro.

A Câmara foi eleita para gerir o património da Cidade e não para o entregar por 50 anos ao grande capital privado comprometendo a gestão de futuros autarcas, provocando ainda mais o fosso social que a nossa Cidade atravessa.

Pelo exposto, os cidadãos abaixo identificados solicitam que sejam accionados os meios disponíveis para manter vivo e reforçar, o tecido Humano e Empresarial do Mercado do Bolhão, na sua estrutura compositiva e de jurisdição Municipal, legando aos vindouros um dos maiores símbolos Arquitectónicos, de Monumentalidade e implantação na Cidade, alegórico da Terciarização no Sec. XIX e XX, sem comprometer o Bem Público nos próximos 50 anos, meio século.

Ao mesmo tempo exigem que a decisão tomada pela Câmara Municipal do Porto seja alvo de discussão pública e que a demolição do Mercado do Bolhão, que a muito breve trecho se perfila, seja atempadamente impedida.